O melhor da SP-Arte e das exposições paralelas ao evento
Na esteira da nova edição do evento, quinze mostras importantes vão movimentar a cidade nas próximas semanas
por Laura Ming
Entre os dias 3 e 6 de abril acontece a décima edição da SP-Arte, a maior feira do tipo da América Latina. Estima-se que mais de 20 000 pessoas, entre colecionadores, curadores e curiosos, passarão pelo pavilhão da Bienal no Ibirapuera nos quatro dias de evento. Gente que vem de todos os cantos do Brasil e, cada vez mais, de outras partes do mundo, para conferir as novidades do mercado.
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Dos nomes internacionais confirmados, há personalidades influentes como Marc Spiegler, diretor da Art Basel, importante feira com três franquias espalhadas pelo mundo, e Franklin Sirmans, curador do Lacma, o maior museu de arte da Costa Oeste americana.Tanto alvoroço tem explicação. Entre as 136 galerias participantes estão algumas das mais relevantes do meio, como a David Zwirner e a Gagosian, dos Estados Unidos.
Tradicionalmente, o circuito de artes plásticas da capital aproveita o interesse gerado pelo evento para programar mostras paralelas. Mas nada se compara ao volume de eventos deste ano. Quinze exposições vão estrear no vácuo da SP-Arte. A partir do dia 5 de abril, por exemplo, o Galpão Fortes Vilaça, na Barra Funda, apresenta os trabalhos de uma das artistas brasileiras de maior prestígio internacional, a carioca Adriana Varejão.Polvo é o nome de uma coleção de tintas formada por uma série de 33 pigmentos cor da pele que ela inventou a partir de respostas dadas a uma pesquisa do IBGE de 1976, ano em que cada entrevistado classificou como quis a própria cor. Apareceram respostas como “café com leite”, “burro quando foge” e “queimada de sol”. Foram produzidas 200 caixas com a coleção de tubos que são uma obra em si (e estão à venda por 20 000 reais, uma pechincha para uma artista cujas telas chegam a alcançar a cotação de 1 milhão de reais).
Na mesma época da abertura do evento da Fortes Vilaça, a Casa Triângulo, no Itaim Bibi, enche suas salas com as criações da portuguesa Joana Vasconcelos (ela causou no ano passado, quando levou um ferry-boat do Rio Tejo para a Bienal de Veneza). Joana não dava as caras por aqui desde 2008. As dez peças que misturam crochê típico dos Açores com cerâmica foram produzidas especialmente para essa exposição. Como a Triângulo está completando 25 anos de atividade, seus diretores programaram uma mostra paralela para celebrar a data. Ela ocorrerá no Pivô, instituto de arte instalado no térreo do Edifício Copan. O local cedeu 2 000 metros quadrados de seu espaço para obras como os neons do coletivo Avaf que imitam pichações e um painel de 16 metros de Sandra Cinto. Outra galeria importante, a Almeida e Dale, nos Jardins, apresenta oitenta telas de Alfredo Volpi, de diferentes fases, que mostram a evolução do seu estilo.
Toda essa movimentação atual em torno do circuito das artes plásticas na metrópole parecia impensável nove anos atrás, quando a advogada Fernanda Feitosa organizou a primeira edição da SP-Arte. Desde então, o mercado se profissionalizou, o número de colecionadores cresceu e mais galerias passaram a participar das feiras internacionais, o que aumentou a visibilidade de nossos artistas. A boa fase se reflete nos números. Só na SP-Arte de 2013 foram negociados aproximadamente 100 milhões de reais em obras de arte, o dobro do ano anterior. “Por isso, todos apresentam o que têm de melhor para aproveitar o público que comparece ao evento”, diz Eliana Finkelstein, sócia da Galeria Vermelho.
No caso dela, uma das apostas para 2014 é a instalação Escalas de Cinza, do paulistano João Loureiro, que promete estar entre as mais divertidas da feira. São seis sabores de sorvete em tons diferentes de cinza. Para conseguir a coloração pouco comum, utilizou corante à base de carvão na receita, que também mistura ingredientes típicos brasileiros como cachaça e graviola. Uma amostra da obra pode ser consumida na hora, comprando-se um sorvete de duas bolas por 10 reais.
A instalação completa, que inclui uma geladeira com 30 litros da iguaria, não estará à venda para colecionadores particulares. Será oferecida apenas a instituições culturais. “É engraçado colocar a galeria para vender sorvete”, comenta o artista, que desenvolveu o trabalho em colaboração com a especialista em sorvetes gourmets Paula Saracchi. A guloseima será servida no evento sobre casquinhas artesanais da Frida Mina, eleita a melhor sorveteria na edição especial “Comer Beber” de VEJA SÃO PAULO do ano passado.
Igualmente imperdível será o estande da nova-iorquina Van de Weghe Fine Art, que vai vender obras inéditas por aqui de artistas consagrados como Jean-Michel Basquiat, Alexander Caldere Andy Warhol a quem puder desembolsar entre 180 000 e 8 milhões de dólares (vale lembrar: quem quiser apenas conferir de perto as criações precisará gastar os 40 reais do bilhete de entradada feira). Outro destaque é o projeto Solo, uma das novidades desta edição. Coordenado por Rodrigo Moura, curador do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, ele apresenta diversas obras de um só artista. “Escolhi nomes ainda pouco conhecidos, mas cuja trajetória artística é muito relevante”, conta.
Entre eles, destacam-se três octogenárias. Geta Bratescu, uma das artistas mais famosas da Romênia (até hoje só teve uma mostra individual no Brasil), que terá uma instalação têxtil e colagens expostas, a carioca Anna Bella Geiger, que tem obras na coleção do MoMA e do Pompidou, e a colombiana Olga de Amaral, que fabrica tecidos lindíssimos com ouro e prata. De cunho mais picante, o trabalho da baiana Virginia de Medeiros explora o universo sadomasoquista em ensaio fotográfico impróprio para menores de 18 anos. Mesmo para quem não quer comprar nada no evento, é uma ótima chance de conferir o que está acontecendo de melhor no mercado de arte contemporânea no mundo.